Iniciativa atende mais de 2.500 meninas e se expande para comunidades ribeirinhas
No Brasil, mais de 220 mil meninas não têm acesso a condições mínimas para cuidar da menstruação nas escolas, segundo dados do UNICEF. Em Manaus, a ADRA, em parceria com o UNICEF, vem tentando mudar esse cenário por meio do projeto WASH nas Escolas, que desde 2023 promove ações voltadas à dignidade menstrual, saneamento e higiene em escolas públicas da capital amazonense.
Criado inicialmente para melhorar o acesso a banheiros e água tratada, o projeto passou a incluir também a temática da pobreza menstrual. “Muitas meninas deixam de frequentar a escola porque não têm absorventes ou condições adequadas para lidar com a menstruação no ambiente escolar”, explica Susi Leão, coordenadora da iniciativa.
A ação começou em nove escolas do bairro Colônia Antônio Aleixo, na zona leste de Manaus, beneficiando especialmente meninas do ensino fundamental e médio com a distribuição de kits de higiene, rodas de conversa sobre o ciclo menstrual e orientação sobre como acessar o programa federal Dignidade Menstrual, que oferece absorventes gratuitamente.
Segundo Susi, o impacto foi imediato. “Meninas passaram a se sentir mais acolhidas, e os meninos, que antes zombavam das colegas, começaram a respeitar mais o tema. O tabu está sendo quebrado dentro da escola.”

Espaço MBK. Escola Estadual Gilberto Mestrinho. (Divulgação)
Entre 2023 e 2024, a iniciativa já alcançou 2.564 meninas com acesso a produtos de higiene e informações, e mais de 5.300 estudantes foram beneficiados com melhorias na infraestrutura sanitária das escolas. O projeto também foi ampliado para 43 escolas ribeirinhas situadas entre os rios Negro e Amazonas.
Um dos frutos mais simbólicos foi a criação do Espaço MBK (Mary Beatrice Kenner, que inventou o primeiro absorvente), uma sala criada por alunas da Escola Estadual Gilberto Mestrinho, onde as estudantes encontram absorventes e apoio durante o período menstrual. A ideia nasceu após uma série de rodas de conversa promovidas pela equipe do projeto.
“O movimento cresceu tanto que até uma rádio comunitária local nos convidou para falar sobre o tema. Isso mostra como é importante dar visibilidade a essas pautas”, afirma Susi.
Apesar dos avanços, os desafios continuam. A meta da ADRA é expandir ainda mais o alcance do projeto, pressionando por políticas públicas que garantam infraestrutura mínima nas escolas e mantendo o tema da dignidade menstrual em pauta.
“A frase que mais ouvimos das meninas é: ‘Isso aqui é uma revolução WASH’. Elas estão entendendo que têm direito a estudar com dignidade, mesmo quando estão menstruadas”, conclui a coordenadora.