ADRA oferece projeto social que ajuda a prevenir o suicídio

Ele é a segunda causa de morte entre jovens e adolescentes. Suicídio. Uma das principais causas de morte em todo o mundo, ficando atrás apenas dos acidentes de trabalho. De acordo com os últimos dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são cerca de 800 mil mortes anualmente, uma a cada 40 segundos. 

Para combater esse cenário, desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza, em território nacional, o Setembro Amarelo. Trata-se de um mês voltado à prevenção ao suicídio. 

A pandemia de Covid-19 contribuiu para o agravamento desse problema. De acordo com um relatório divulgado pela UNICEF no último ano, cerca de um em cada sete crianças ou adolescentes entre 10 e 19 anos vive com algum transtorno mental já diagnosticado. O estudo sugere que é possível trabalhar para minimizar os fatores de risco e maximizar os de proteção da saúde mental em âmbitos importantes para a vida de crianças e adolescentes.  

Sabendo deste índice, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), por meio de parcerias com prefeituras, Estados, entidades e afins, tem realizado, em todo o Brasil, iniciativas para reduzir essa realidade. Um desses projetos ganhou o nome “Garotas Brilhantes”, que atende meninas adolescentes de escolas públicas ou em situação de vulnerabilidade, entre 13 e 18 anos de idade. 

Segundo a psicóloga Andryeli Reis, que atende na ADRA, unidade de Cachoeirinha, Rio Grande do Sul, inicialmente a ideia buscava prevenir a gravidez na adolescência. “Percebemos que o projeto vai muito além disso. Ele é capaz de promover o bem-estar, autonomia, auto-estima e autocuidado na vida das adolescentes participantes”, frisa.  

A psicóloga também destaca que as reuniões são importantes na vida das garotas porque inspiram sonhos e ambições. “Ajudam elas a se conhecerem, a se aceitarem e amarem, ou seja, é capaz de mudar suas perspectivas de vida e delas mesmas, possibilitando descobrirem seu potencial”, destaca Andryeli.  

Em todas as localidades onde é realizada a iniciativa, as meninas participam de oficinas aplicadas por meio de dinâmicas e rodas de conversa, sob os temas: autoestima, autocuidado, autodesenvolvimento pessoal e autovalorização, suicídio, automutilação, gravidez na adolescência, sexualidade, relacionamentos abusivos, alcoolismo, drogas, violência e abusos sexuais e psicológicos. 

Além disso, são trabalhados valores que englobam um projeto de vida e empreendedorismo. As atividades são aplicadas por psicólogos, psicopedagogos, assistentes e educadores sociais. 

Mariana  Borges é psicóloga e coordena o Garotas Brilhantes em Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Ela menciona que durante os encontros as adolescentes são encorajadas a reconstruir o futuro, a se tornarem protagonistas de suas histórias, a fim de evitar que entrem para as estatísticas mencionadas no início desta matéria.  

Cerca de 96,8% dos casos de suicídio entre os jovens estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de drogas. Algumas situações como desemprego, sensações de vergonha, desonra, desilusões amorosas e antecedentes de doenças mentais também são fatores de risco para o suicídio. Entretanto, a OMS afirma que em 90% dos casos, o suicídio tem prevenção. E um dos objetivos do projeto Garotas Brilhantes é justamente este, ser esperança na vida de centenas de adolescentes por todo o Brasil.

A psicóloga Mariana Borges destaca que o suicídio é um fenômeno comportamental. “Normalmente, um dos primeiros sintomas a surgir é o isolamento e a automutilação. Outra característica são conteúdos verbais, como: ‘A vida não tem mais graça’; ‘Eu não deveria ter nascido’, ‘Eu só atrapalho’, entre outros”, alerta. Mariana acrescenta que ao perceber alguma dessas características em alguém, a melhor maneira de agir é demonstrando empatia e não julgar o que o outro está sentindo ou passando. 

Para esclarecer mais dúvidas sobre o assunto, a ADRA conversou com a psicóloga Andryele Reis. Confira, abaixo, a entrevista:

Projeto atendente centenas de jovens e adolescentes por todo Brasil. (Foto: Divulgação)

ADRA: Quais são as características comportamentais de um adolescente com tendência ao suicídio? Como agir quando alguma característica é percebida? 

Andryele:  Quando se trata de adolescentes, devemos ficar atentos não somente ao que ele está dizendo por meio das palavras, mas também ao seu comportamento. O adolescente pode expressar muito mais através dos seus atos do que pelas palavras. Por isso, preste atenção se há mudanças no humor, se o adolescente está triste, deprimido; se há mudanças na alimentação e/ou sono, se está comendo ou dormindo mais ou menos do que o habitual; perceba se há ausência de cuidado com a higiene, se o adolescente perdeu o interesse por se cuidar, estudar ou em relação ao lazer, se há uma perda em relação ao interesse pelas atividades. Fique atento se o adolescente está se isolando da família ou amigos, se há diminuição no rendimento escolar e se há uso abusivo de drogas ou álcool. Além disso, preste atenção ao que o adolescente está dizendo sobre morte, sobre pensar na sua morte ou em um planejamento da própria morte. Até mesmo sobre a vida, se existe desesperança em relação ao seu futuro. Outra situação de extrema importância está ligada à autoagressão. Preste atenção se há cortes em seu corpo ou se há tentativa em escondê-lo usando roupas mais compridas no verão, por exemplo. Ao perceber alguns desses sinais, não hesite, não ignore, pois é por meio do corpo ou comportamento que o adolescente consegue se expressar. Ou seja, existe uma dor, um sofrimento, um sentimento que o adolescente quer expressar, mas não sabe como comunicar, portanto, dê espaço para que ele fale sobre o que sente. Se for difícil para ambos, tanto falar como ouvir, encontre um profissional que permita ajudar nesse contexto, mas não ignore esses sinais.

ADRA: Como prevenir condutas suicidas na adolescência? 

Andryele: Pessoas em risco de suicídio estão passando por um momento de crise que pode alterar sua percepção da realidade. Por isso, a comunicação é uma ferramenta fundamental nesse sentido. Sendo usada na família, nas amizades, escola e trabalho, tem o potencial de prevenir o suicídio, pois um diálogo sobre os conflitos enfrentados, pensamentos e emoções  sentidas, sem julgamentos ou repressões, podem servir como estratégia. Quando o adolescente em sofrimento tem um espaço para que os conflitos internos se estabeleçam, tais conflitos têm a possibilidade de ser enfrentados e trabalhados de forma saudável junto aos pais, amigos, professores e profissionais, e isso desenvolve a maturidade e independência dos adolescentes, possibilitando a construção de uma percepção mais clara e integrada da realidade. 

ADRA: De que forma o projeto Garotas Brilhantes aborda o tema suicídio e como trabalha a prevenção? 

Andryele: Por meio das oficinas são abordados diversos assuntos que envolvem relacionamentos, autoestima, autocuidado, entre outros. Com isso, são abertos debates que nos permitem ouvir das garotas sobre suas dores, experiências e sentimentos. Desta forma, juntamente com as voluntárias e terapeutas que fazem parte do projeto, trabalhamos sobre como compreender e lidar com inúmeras situações que enfrentam no dia a dia dentro da família e escola, gerando acolhimento, empoderamento e fortalecimento das relações e da autoestima. 

ADRA: Como lidar com uma pessoa que já tentou o suicídio? 

Andryele: Ao lidar com pessoas que já tentaram o suicídio, a principal conduta a ser tomada é o acolhimento e respeito. Evite diminuir a dor dela comparando com a dor de outras pessoas: “Você tem tudo, não tem por que se matar, tem gente que está bem pior que você”, “Tem gente com câncer ou com problemas muito mais graves que o seu”. Cada um sente de diferentes formas as experiências da vida, não cabe a você e a ninguém medir quais dores são maiores ou menores. Não fale que a pessoa queria chamar a atenção. Quem tentou o suicídio não quer chamar a atenção, quer acabar com a dor. Está pedindo socorro e, muitas vezes, a única saída que encontra é a morte. Não a invalide nem diminua a sua dor. Falar sobre a morte não incentiva a pessoa a querer morrer. A pessoa que tentou o suicídio quer falar sobre como se sente ou o que pensa, isso alivia sua angústia e tensão. 

ADRA: Como você orienta alguém que pensa ou já pensou em tirar a própria vida? 

Andryele: Na vida existem muitas situações que acreditamos ser difíceis demais e que não conseguiremos suportar. Muitas vezes nos sentimos sozinhos e desamparados ao ter que enfrentar lutas e dificuldades. Não se sinta culpado ou fraco por pensar em desistir. Você está cansado e pode reaprender a descansar. Você está com dor e pode ser cuidado.  

Se você se sente incompreendido, busque ajuda profissional. Se você está cansado, busque uma pausa. Se você está com dor, busque cuidado. Simplesmente compreenda que existem outras saídas e é possível encontrar nelas o que você realmente busca: o alívio da dor. Se você não sabe onde encontrar tais saídas, procure ajuda com sua família, amigos,  com um profissional psiquiatra e/ou psicólogo. 

Por todo o Brasil

Além do Rio Grande do Sul, nos Estados do Espírito Santo, Amazonas, Rio de Janeiro, Rondônia, Bahia, São Paulo, Santa Catarina e no Distrito Federal, a ADRA opera na área de prevenção e auxílio direto a crianças e adolescentes em situação vulnerável.

A ADRA tem iniciativas voltadas à saúde mental e bem-estar de crianças e adolescentes. Você também pode contribuir com essas iniciativas. Saiba como colaborar por meio do site adra.org.br.

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