Mala de Recursos Lúdicos é coordenado pela ADRA Brasil desde 2015 e atende 307 pessoas com deficiência.
No dia 21 de setembro é comemorado no Brasil o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. Apesar de ter sido oficializada apenas em 2005, a data já era celebrada a nível extraoficial desde 1982. O dia especial busca conscientizar sobre a importância do desenvolvimento de meios de inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que 8,4% da população brasileira acima de 2 anos, o que representa 17,3 milhões de pessoas, tem algum tipo de deficiência. Destas, muitas sofrem com o preconceito e a inacessibilidade pública. Estes dois pontos, inclusive, são debatidos durante a data especial.
Projeto Social
Em Belo Horizonte, Minas Gerais, um programa intitulado “Mala de Recursos Lúdicos”, executado pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, a ADRA, em parceria com a prefeitura, utiliza a arte como ferramenta para promover a cidadania e a inclusão de pessoas com deficiência.
Em nove regiões da capital mineira, centenas de pessoas com deficiência, juntamente com suas famílias, são atendidas pela ação. As atividades são ofertadas em domicílio, na comunidade e na cidade, possibilitando acesso a espaços públicos de cultura, esporte, lazer, entre outros.
No atendimento, educadores sociais do programa usam uma mala customizada com diversos materiais, o que abre a possibilidade da novidade, da magia e do convite ao lúdico por meio do fortalecimento de vínculos e do envolvimento da família em torno da pessoa com deficiência.
A coordenadora do programa, Luciene Guedes, explica que por meio da mala de recursos o educador social utiliza de atividades lúdicas, tais como jogos, contação de histórias, pintura, leitura, dramatização e dinâmicas, proporcionando relações de afeto e vínculo da família em torno da pessoa com deficiência.
Para Luciene, a mala não é somente um objeto lúdico. Representa o trabalho de um programa que contribui para assegurar o convívio e a autonomia de usuários e suas famílias. “O programa contribui para a melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência”, afirma.
Luciene lamenta que ainda existam muitas barreiras, sejam arquitetônicas, estruturais e até mesmo culturais, que limitam o acesso da pessoa com deficiência ao convívio social, comunitário e familiar. “Por meio do programa são aplicadas atividades que possibilitam o desenvolvimento de habilidades, potencialidades e autonomia. A família passa a compreender melhor os direitos da pessoa com deficiência, seus desejos e sonhos, o que contribui muito com a função protetiva da família”, declara.
A Oficina Lúdica é uma modalidade de atendimento do programa que consiste na realização de encontros previamente planejados e organizados em conjunto com o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência.
O programa também busca integrar a pessoa com deficiência na família e na sociedade. Para isso, os atendimentos são feitos em conjunto, com a presença dos familiares.
O educador social lúdico Rodrigo Guimarães faz visitas em domicílio. Nesses encontros, juntamente com as famílias, planeja e executa as atividades lúdicas.
Rodrigo conta que, muitas vezes, o processo de inserção é desafiador. “Natanael é um desses casos. Ele passou por uma experiência negativa em outras políticas. Nas primeiras intervenções, trazia queixas de vivências nos equipamentos”, relata.
O educador argumenta que quando as atividades tinham início, o beneficiário não era receptivo e questionava as propostas das atividades. “Analisei a situação e comecei a planejar as atividades. Ele é muito observador e tem um bom conhecimento de músicas, novelas e artistas. Comecei os diálogos sobre esses temas e fui estabelecendo meu vínculo com ele”, destaca Rodrigo.
Com o atendimento humanizado do educador social, Natanael aceitou participar de uma atividade externa. “Levei uma tela para pintura livre. Ele realizou a atividade e, desde então, nunca mais parou de pintar e de propor as atividades. No processo de realização das atividades do programa, Natanael adquiriu novas aquisições”, comemora o educador.
Histórias inspiradoras
De acordo com a coordenadora, os encontros são acompanhados pelas famílias e realizados fora do âmbito domiciliar. Ocorrem em praças, parques, museus, zoológico, espaços culturais e outros.
Muitas histórias marcam o projeto. Dentre elas, Luciene relembra a de um adulto com deficiência. Ele teve paralisia infantil e faz uso da cadeira de rodas. Tinha muita dificuldade para sair de casa, vivia em isolamento social. “Ele não expressava nada. Após o acompanhamento do programa, começou a sair, ocupar os espaços da cidade, interagir mais com as pessoas e com os próprios familiares. Hoje, o beneficiado tem a autonomia expressa na fala e relata seus gostos, desejos, sonhos”, comemora Luciene.
Durante as oficinas lúdicas, dezenas de situações marcam as equipes. Um exemplo disso é de uma mãe que fez um relato durante uma atividade. Ela comentou que o filho de 25 anos de idade foi ao cinema primeira vez e ela não imaginou que isso seria possível. Também há relatos de uma senhora que andou de bicicletas pela primeira vez em uma oficina realizada na Orla da Lagoa da Pampulha, “pedalada da inclusão”, bem como o seu filho, que é adulto e usuário de cadeira de roda.
“Na última oficina, duas pessoas relataram ser a primeira vez que entraram em uma piscina. Ficaram muito emocionadas e agradecidas”, conclui a coordenadora Luciene Guedes.
Sobre o programa
O programa Mala de Recursos Lúdicos foi criado em 2002 pela Prefeitura de Belo Horizonte e está sob a coordenação da ADRA Brasil desde 2015. Atualmente, o trabalho é realizado por uma equipe de 24 especialistas e atende 307 pessoas com deficiência que residem na capital mineira.