Após enchente, projeto da ADRA aposta em pequenos ofícios para reconstruir dignidade e renda em Porto Alegre

Quando a enchente de 2024 atingiu o Rio Grande do Sul, a água não levou apenas casas, móveis e mercadorias. Levou também planos, rotinas e a confiança de quem vivia do próprio trabalho. Em Porto Alegre, dezenas de pequenos empreendedores viram seus instrumentos de renda desaparecerem, e, com eles, a possibilidade imediata de recomeço.

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É nesse cenário que surgiu o Projeto Reconstruindo com Dignidade, iniciativa da ADRA Brasil (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais), organização humanitária ligada à Igreja Adventista do Sétimo Dia, voltada a ações de resposta a emergências, desenvolvimento social e apoio a populações vulneráveis. A ação acontece na sede da entidade, na avenida Farrapos, e já beneficiou 68 pessoas com oficinas práticas de manicure e pedicure, cabeleireiro, barbeiro, corte e costura e artesanato em madeira.

Iniciativa desenvolvida pela ADRA Brasil oferece formação em diferentes ofícios como parte do processo de reconstrução social e econômica dos participantes. (Fotos: Divulgação)

“A ideia nasceu da necessidade de ajudar empreendedores que perderam todo o seu material na enchente e ainda não conseguiram retomar suas atividades”, explica Lívia Palma, coordenadora do projeto. Segundo ela, o público também inclui pessoas que nunca tiveram oportunidade de iniciar um negócio próprio, mas que encontraram no projeto uma porta de entrada.

A escolha por ofícios manuais não é aleatória. São atividades com baixo custo inicial, grande demanda e possibilidade de atuação flexível, em casa, a domicílio ou em parcerias com salões e empresas. “São segmentos que permitem autonomia e geração de renda de forma rápida, algo essencial para quem precisa se reerguer”, afirma Lívia.

Ação da ADRA Brasil reúne oficinas práticas voltadas à geração de renda e à retomada da autonomia de pessoas afetadas pela enchente no Rio Grande do Sul. (Fotos: Divulgação)

Mas o desafio vai além da técnica. Segundo a coordenação, um dos principais obstáculos enfrentados hoje é o emocional. “Muitas pessoas chegam com vergonha, medo e insegurança. O que mais nos marca é perceber a vontade de mudar, mesmo diante dessas fragilidades”, diz.

Projeto Reconstruindo com Dignidade promove oficinas práticas como parte do processo de retomada da renda e da autoestima dos participantes. (Fotos: Divulgação)

Essa insegurança era parte da rotina de Josiane da Silva Oliveira, manicure, de 36 anos, uma das participantes do projeto. Antes das oficinas, ela descreve seus dias como mecânicos e pesados. “Eu fazia tudo no automático, tentando dar conta das responsabilidades sem tempo para olhar para mim mesma”, escreveu à mão ao responder às perguntas da reportagem.

A seleção para o projeto trouxe surpresa, e alívio. “Foi uma mistura de surpresa, alegria e gratidão. Não foi algo simples, significou uma oportunidade no momento em que eu mais precisava”, relata.

Josiane conta que chegou com a autoestima profundamente abalada. “Eu me sentia insegura, cansada, sem reconhecer minhas próprias qualidades.” Ao longo das aulas, no entanto, passou a descobrir habilidades que não imaginava ter. Segundo Lívia, esse tipo de transformação é comum. “Temos alunos que chegaram sem noção nenhuma e hoje já estão com o próprio negócio em andamento.”

Oficinas de capacitação profissional fazem parte do projeto Reconstruindo com Dignidade, que atende pessoas impactadas pelas enchentes de 2024. (Fotos: Divulgação)

Atividades realizadas pela ADRA Brasil integram ações de apoio social e capacitação profissional para pessoas afetadas pela enchente no RS. (Fotos: Divulgação)

Para Josiane, o impacto vai além da renda. “Essas ações devolvem dignidade, esperança e pertencimento. Esse tipo de cuidado ajuda a reconstruir não só a vida financeira, mas também o emocional”, escreve.

O projeto é executado por uma equipe composta por coordenação, apoio operacional e seis professores, sendo cinco responsáveis pelas oficinas práticas e um pelas aulas de empreendedorismo. Todos os materiais necessários para a formação profissional são fornecidos aos participantes.

Iniciativa busca oferecer oportunidades de recomeço por meio da formação em ofícios de baixo custo e alta possibilidade de geração de renda. (Fotos: Divulgação)

Apesar dos avanços, a demanda segue maior que a capacidade atual. “Gostaríamos de continuar e atender mais pessoas, para que se tornem autossuficientes e possam sustentar suas famílias com dignidade”, afirma Lívia. Os próximos passos incluem visitas individuais para acompanhar o desempenho dos novos empreendedores.

Questionada sobre quem vê esse tipo de iniciativa como algo superficial diante da magnitude da tragédia, Josiane responde sem hesitar: “Só quem está passando por um momento difícil entende o valor de uma oportunidade como essa”.

No Rio Grande do Sul que ainda tenta se reerguer, a reconstrução passa também por gestos aparentemente pequenos, mas que devolvem algo essencial: a possibilidade de olhar para o futuro com mais firmeza.

 

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