Em 2022, Brasil registrou 756 mil crianças e adolescentes submetidos às piores formas de trabalho infantil
Pedro* tinha apenas 13 anos de idade, mas já conhecia o peso da vida nas ruas de uma grande cidade. Sua família foi despejada de uma comunidade após não conseguir mais pagar o aluguel, e as calçadas tornaram-se sua nova morada. Pedro foi incentivado pelos pais a vender balas nos semáforos para ganhar algumas moedas e ajudar a família a sobreviver.
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Certo dia, enquanto trabalhava, Pedro encontrou Marina*, voluntária dedicada a resgatar crianças em situação de rua. Ao conhecer a história do garoto, Marina o acolheu e, depois de algum tempo, em estado de proteção social, encaminhou-o a um abrigo, onde aguarda ser adotado.
Apesar do resgate de Pedro, outras 160 milhões de crianças com idades entre 5 e 17 anos estão envolvidas em trabalho infantil, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Desse total, aproximadamente metade realiza trabalhos perigosos que põem em risco sua saúde, segurança e desenvolvimento moral.
Realidade no Brasil
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua), divulgada em dezembro de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve um aumento de 7% nos casos de trabalho infantil entre 2019 e 2022. Além disso, em 2022, 756 mil crianças e adolescentes foram submetidos às piores formas de trabalho infantil.
Para chamar a atenção da sociedade a este assunto, em 2002 a OIT instituiu o dia 12 de junho como Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, data que busca promover reflexões e ações sobre o direito fundamental de todas as crianças a uma infância segura, à educação e à saúde, livres da exploração e de outras violações.
No Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, organizações governamentais e não-governamentais, junto à sociedade civil, reforçam a importância de ações conjuntas para erradicar essa prática. Campanhas de conscientização, projetos educacionais e políticas públicas são criadas para enfrentar o problema. Programas como o PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), por exemplo, desempenham um papel crucial ao fornecer apoio às famílias e garantir que as crianças permaneçam na escola.
Combate ao trabalho infantil
Na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, crianças são beneficiadas pela AEPETI (Ações Estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), uma parceria da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) com a Prefeitura Municipal de Pouso Alegre. A entidade realiza, junto à ACESSUAS Trabalho, o projeto Meu Primeiro Emprego, que atende jovens do terceiro ano do ensino médio da rede estadual de ensino.
A coordenadora da AEPETI, Andreia Aparecida Cândido dos Santos, explica que outras iniciativas voltada à proteção das crianças. “Promovemos o Evento Maio Laranja, com uma mobilização em praça pública que conta com a presença de escolas municipais e estaduais e autoridades; temos também o evento AEPETI na Escola, que será realizado em escola municipais com orientações, oficinas e dinâmicas para as crianças do ensino fundamental”, compartilha.
Segundo Andreia, as ações mensais contemplam uma média de 200 crianças e adolescentes. “Temos parceria com a Secretaria de Políticas Socias de Pouso Alegre, Rede de Educação Estadual e Municipal, Secretaria Municipal de Saúde, PROFESP/Conviver, Conselho Tutelar, ESPRO, SENAC e programas e projetos da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA)”, ressalta.
Fortalecimento das ações
O maior desafio da cidade é a conscientização da população sobre o trabalho infantil, que já naturalizou essa prática como algo benéfico. “Estamos trabalhando para mudar essa realidade. As ações são graduais e estão crescendo. Para fortalecê-las, precisamos transformar esse programa em serviço, pois, desta forma, podemos planejar ações a curto, médio e longo prazo e garantir que as atividades se tornem uma prática aplicada nas escolas e trabalhada na comunidade”, expõe Andreia.
A erradicação do trabalho infantil é uma responsabilidade global que exige compromisso, ação e solidariedade. Somente através de esforços conjuntos é possível assegurar um futuro em que todas as crianças possam crescer com dignidade e esperança.
Para conhecer melhor as ações e atividades promovidas pela AEPETI, acesse https://www.instagram.com/aepeti.pa.mg/.
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos envolvidos.