Por Ronaldo Vicente
A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), por meio do seu escritório no Rio Grande do Sul, promoveu, na última terça-feira, 28 de outubro, o Encontro Estadual do projeto Garotas Brilhantes (GB). A programação reuniu 150 adolescentes de seis municípios gaúchos para um dia de atividades recreativas, orientações e palestras no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS). Segundo a organização, “o evento foi uma oportunidade de celebrar os resultados do projeto e fortalecer parcerias”.
Idealizado no ano de 2014 pela coordenadora de projetos da ADRA São Paulo, Neusa Ferraz, o Garotas Brilhantes iniciou suas atividades no Rio Grande do Sul em 2021. Desde então, o projeto já atendeu cerca de 800 meninas, promoveu 900 palestras e oficinas, e beneficiou outras 40 jovens com cursos profissionalizantes. As ações acontecem em escolas públicas dos municípios de Alegrete, Gravataí, Santa Maria, Porto Alegre, Rio Grande e Taquara.
O Garotas Brilhantes atua com base em políticas públicas voltadas à proteção e ao desenvolvimento de crianças e adolescentes. Para implementar o projeto, a ADRA firma parceria com as secretarias municipais de educação e com as coordenadorias regionais de educação. Para que isso seja possível, a agência se insere nos conselhos municipais de assistência social e nos conselhos de direitos da criança e do adolescente.
Marcelli Garcia, coordenadora estadual do projeto, explica que as atividades são estruturadas em três eixos principais: saúde, educação e empregabilidade. “As ações de saúde são divididas entre o cuidado físico e o emocional. Trabalhamos questões como autoestima, métodos contraceptivos, acompanhamento psicológico e ressignificação de traumas causados por negligência, violência ou violação de direitos. Já no eixo da educação, apresentamos a possibilidade de uma vida acadêmica por meio de visitas a universidades, escolas técnicas e cursos profissionalizantes”, detalhou.
Para facilitar o primeiro emprego das adolescentes, o último módulo do GB é voltado à inserção no mercado de trabalho. A ADRA RS conta com o apoio do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio Grande do Sul (CIEE-RS). “Por meio da plataforma de aprendizagem do CIEE, as meninas são apresentadas ao programa Jovem Aprendiz e a oportunidades de estágio. Muitas delas já conseguiram ingressar no mercado formal de trabalho”, destacou Marcelli.
O diretor da ADRA RS, pastor Jorge Weibusch, ressaltou que iniciativas como o GB têm impactado positivamente comunidades inteiras e devolvido esperança para as famílias. “São meninas que hoje têm carreiras promissoras e se tornaram motivo de orgulho para suas famílias. Algumas trabalham em companhias aéreas, outras foram as primeiras a ingressar na faculdade. Isso nos enche de alegria”, comemorou.

Momento em que a psicóloga Whalerya Cabeda realiza uma dinâmica com as adolescentes do Garotas Brilhantes. (Foto: Yamile Schuch)
Vidas transformadas
Para Mary Padilha, 17 anos, o Garotas Brilhantes chegou num momento crucial de sua história. Ela conta que foram as palestras de saúde emocional que trouxeram a força que ela precisava para enxergar luz no fim do túnel. “Eu conheci o projeto quando passava por uma situação de vulnerabilidade. Eu ganhei uma família, recebi apoio e o amor que precisava para enfrentar o momento mais difícil da minha vida. Antes eu não tinha nenhuma visão de futuro, achava que depois do nono ano não teria mais motivo para viver. O projeto trouxe uma perspectiva diferente, hoje eu sonho em doar para outras garotas aquilo que foi doado para mim”, declarou.
Já a adolescente Sarah Santos viu nas palestras de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez na adolescência, um retrato da vida real. Ao lembrar da história de uma colega, a adolescente entendeu a importância do assunto. “Uma amiga teve muitas experiências ruins. Então, é de extrema importância bater nesta tecla, porque a falta de conhecimento pode destruir a vida de uma mulher. Pois, em casa esse assunto não é abordado por vergonha, por tabú, ou até mesmo porque na família não se tem abertura para falar sobre sexualidade”, sustentou.
Sarah revela que o Garotas Brilhantes a ensinou a sonhar. Desde nova a adolescente foi incentivada a ter em mente o que queria ser no futuro após a conclusão do Ensino Médio. No entanto, ela não fazia a mínima ideia do que isso significava. “Nunca tive um direcionamento de como pensar nisso e foi através das palestras que comecei a investigar e ir mais fundo em busca do que me definiria como profissional. Hoje tenho um olhar mais dinâmico e não estou presa às definições de futuro que a sociedade ou até mesmo minha família sonharam para mim”, sublinhou.

Marcelli Garcia, primeira da esquerda para a direita, homenageia as coordenadoras de unidades do Garotas Brilhantes. (Foto: Yamile Schuch)
Dando a volta por cima
Foi através do GB que Maria Clara, 15 anos, foi escolhida para compor o Comitê de Participação dos Adolescentes (CPA) de sua escola. A estudante atua como porta-voz de seus pares tornando o ambiente escolar mais seguro e democrático. “Costumo dizer que somos a voz de quem não pode falar. Quando precisam que alguém aborde assuntos como bullying eles me convidam, eu estudo a temática e represento meus colegas”, contou.
As escolas que recebem as reuniões semanais do GB afirmam que a mudança de comportamento das meninas é notável. “O projeto alcança a comunidade escolar. Recebemos o feedback das diretoras e coordenadoras falando da melhoria no desempenho acadêmico e no comportamento. Elas multiplicam o conhecimento na escola e dentro de seus lares. Nós recebemos o reconhecimento das mães, avós, tias. Especialmente de mulheres que convivem com elas, que são beneficiadas pelo que as adolescentes aprendem no GB”, garantiu Marcelli.



