Venezuelanos participaram de dia especial em Manaus.
Glenda Figuera não conseguiu conter a emoção ao ouvir o hino nacional da Venezuela. “Quando ouvi senti que estava em minha terra, na minha pátria Venezuela. Quando escutei a outra canção, aquilo me doeu até a alma, pois me transportei até o lugar de onde eu sou”, disse a professora que chegou ao Brasil há um mês. Ela está em busca de um emprego e estabilidade econômica para poder trazer sua família para viver em Manaus.
Na semana em que aconteceram diversas atividades referentes ao Dia Mundial do Refugiado, a ADRA organizou no domingo, 23 de junho, um dia especial para os mais de 120 venezuelanos que estiveram presentes ao Centro de Apoio e Referência a Refugiados e Migrantes (CARE).
Segundo dados da ONU, o número de pessoas deslocadas no mundo já passa de 70 milhões. Esse número considera tanto refugiados como pessoas deslocadas dentro do próprio país. A Venezuela foi o país que, em 2018, mais solicitou refúgio no mundo todo. Foram 341 mil pedidos, 3 vezes mais que os afegãos, segundos na lista. Em Manaus, o número já chega a 16 mil.
A ADRA mobilizou mais de 90 voluntários que abriram mão de seu domingo para trazer amor e esperança para os mais de 120 venezuelanos que participaram de diversas atividades. O objetivo do evento foi trazer um pouco de alívio para essas pessoas que estão passando por momentos de muito sofrimento e stress emocional.
As atividades se iniciaram com a banda Vila da Barra e depois ocorreram oficinas infantis, oficinas profissionalizantes, palestras e um delicioso almoço para encerrar. Foram distribuídas mais de 100 cestas básicas para os presentes. Para Sara Zahn, psicóloga do CARE, eventos como esse são importantes para que essas pessoas se sintam acolhidas por alguém. “A ADRA proporciona essa sensação de se sentir parte, de pertencer a um lugar; mesmo que eles não estejam em sua pátria, o CARE é um pedacinho do lar deles”, comenta a psicóloga.
Para Juliana Serra, assistente de proteção da ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados – eventos como esse em alusão ao Dia do Refugiado, servem para celebrar a força dessas pessoas que estão passando por esse momento tão difícil, demonstrando aos venezuelanos que eles são bem-vindos.
De acordo com ela, a integração local não é só o trabalho ou só o idioma, mas passa por todas as etapas da vida. A cultura, o lazer e momentos de descontração como o promovido pela ação fazem parte da integração local. “A gente consegue ver no rosto deles o quanto estão contentes. Pequenos atos feitos com amor, se tornam grandes conquistas”, destaca a Juliana.
Essa foi a terceira vez que Isaías Sevalho foi ao CARE como voluntário para oferecer seus serviços de corte de cabelo e não foi embora enquanto não atendeu a todos. Para ele, é uma satisfação poder ajudar ao próximo. “É um dever de cada cristão”, afirmou Isaías. Além dele, muitos outros voluntários se envolveram para que o evento acontecesse.
Carlos Hurtado, 42 anos, esteve presente com sua esposa e os dois filhos. Ele veio sozinho há 2 anos e no ano passado, conseguiu trazer sua família. Carlos era segurança na Venezuela e aqui está trabalhando como auxiliar de serviços gerais. Para ele, aprender a língua e a cultura foram primordiais para que pudesse hoje estar bem adaptado ao novo país. Apesar de sentir muita saudade, não pretende mais voltar à Venezuela pois quer no momento “crescer como pessoa, crescer profissionalmente e aprender outra língua”.