Do abuso ao acolhimento

Como as Casas de Acolhimento coordenadas pela ADRA atuam em combate à exploração e abuso sexual das crianças e adolescentes.

Quais são as primeiras memórias que você possui de sua infância? As primeiras imagens que você encontra são de abraços, colo, ou talvez de amor fraternal? A história de todo ser humano é escrita de acordo com aqueles que estão ao seu redor. Mas para milhares de crianças e adolescentes, as primeiras lembranças são tristes recordações que deixarão cicatrizes por toda a sua vida.

Desde criança, Juliana do Rosário, vivenciou na pele a rotina de uma criança que sofre violações de direitos e maus tratos. Sofreu abusos sexuais pela mãe e padrasto, quando morava com eles. No curto tempo que ficou na casa de seu pai biológico, passou pelas mesmas atitudes abusivas. Devido ao descaso familiar que sofrera, aos 16 anos de idade foi encaminhada para o Acolhimento Infantil em Vitória, no Espírito Santo, que é coordenado pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA) em parceria com a Prefeitura Municipal, desde 2001. 

A chegada da criança ou adolescente em um novo ambiente, sempre é um marco em sua vida, que geralmente é evidenciado com um rostinho assustado. Mesmo o início sendo desafiador tanto para a equipe de profissionais, quanto para o novo abrigado, o tempo vai descontruindo as barreiras, e o que parecia ser um local desconfortável e de aprisionamento, se transforma em um lar.

Mas ninguém passa pela vida sem criar vínculos. Por isso, muitas crianças e adolescentes que sofreram abusos e exploração sexual em sua vida, se apegam na primeira oportunidade ao encontrar um amor genuíno e cuidado fraternal. Para a jovem Juliana do Rosário, não havia esperanças, mas no Acolhimento Infantil um casal de cuidadores fez a diferença em sua vida. Finalmente ela encontrou na casa de acolhimento pessoas que a amavam, proporcionando assim uma oportunidade de escrever um final feliz em sua história. “Em um momento rebelde, tivemos uma conversa longa, onde me propuseram uma mudança de vida. As pessoas lá dentro me ampararam. Eu ganhei um pai e uma mãe… E minha vida tomou outro sentido”, conta.

A oportunidade de escrever uma nova história

Como resultado do impacto que a equipe de cuidadores teve em sua vida, a jovem Juliana, que desde criança sofreu abusos sexuais e descaso de sua família biológica, decidiu ser diferente daquilo que lhe foi ensinado em seu antigo lar. Aos 20 anos de idade, Juliana tomou a decisão de seguir a mesma profissão daqueles que fizeram a diferença em sua vida. Hoje ela é e colaboradora da ADRA e cuidadora do Abrigo de Vitória, o mesmo abrigo a qual foi encaminhada durante sua adolescência. “Apesar das dificuldades há esperança. Eu entrei sem rumo e saí com uma família”, conta.

Com o ofício de cuidadora, hoje Juliana possui a oportunidade de auxiliar e dar assistência às crianças que passaram pela mesma dificuldade, como ela, nos anos que residiu com seus pais biológicos e sofria abusos físicos e psicológicos. Além de exercer a sua profissão, ela faz questão de deixar uma mensagem gravada no coração dos jovens que fazem parte do abrigo, pois entende a importância que esta profissão apresenta em sua vida.“ Hoje eu me sinto bem porque eu consigo ajudar de certa forma e fazer diferença na vida delas até porque dois cuidadores fizeram isso por mim lá trás. Que elas não percam a esperança… Existem pessoas boas neste mundo que se preocupam com os menos favorecidos”, finaliza.

Juliana e o cuidador que a recebeu na casa de acolhimento, Maxwell Pereira de Lima

Data enfatiza a importância de cuidar dos menores

Anualmente, no dia 18 maio, é vivenciado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Segundo a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, em 2019, o balanço registrou 42.585 denúncias pelo Disque 100. Abuso sexual (80,15%) e exploração sexual (14,85%) estão como as violações mais denunciadas. De acordo com dados da Secretaria de Direitos Humanos, é assustador o número de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no país, e grande parte das violações são cometidos dentro de casa.

A Unesco afirmou recentemente que o fechamento de escolas impactou a vida de 1,3 bilhão de alunos em 186 países. Em nosso país, essa interrupção obrigou crianças e adolescentes a perder o contato com adultos protetores. Lamentavelmente, segurança do lar não é garantia de proteção e existe o receio de que muitas crianças estão expostas ao aumento de tensões maus entendidos dentro de casa, situações decorrentes da crise econômica, do estresse e de um maior consumo de bebidas alcoólicas. Com o intuito de ajudar a combater este mal que arruína a vida de milhares de jovens todos os anos, o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi instituído oficialmente no país através da lei nº 9.970, em maio de 2000.

A ADRA tem realizado parcerias com as prefeituras e coordena os serviços que recebem crianças e adolescentes com idades de 0 a 18 anos incompletos, vítimas de abandono, violências e maus tratos, encaminhadas pelo Poder Judiciário e/ou Conselho Tutelar, em caráter provisório, até que seja viabilizado o retorno do acolhido ao seio familiar de origem ou, na sua impossibilidade, encaminhado à família substitutiva.

Além do Espírito Santo, nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, Rondônia, Bahia e no Distrito Federal, a ADRA opera nesta área de prevenção e auxilio direto a crianças e adolescentes em situação vulnerável. Em parceria com o UNICEF, prefeituras dos estados acima mencionados e outros, um total de 634 crianças são atendidas mensalmente nos projetos, com o intuito de ajudar a melhorar a condição de vida destes menores.

No Espírito Santo, a ADRA atua em parceria com os municípios de Cariacica, Viana, Vila Velha e Vitória, na coordenação de Casas de Acolhimento Infantil. Cláudia Brandão é colaboradora da ADRA e coordenadora gerencial do Serviço de Acolhimento Institucional em Cariacica, ela relata que muitas crianças e adolescentes chegam às Casas de Acolhimento a partir de negligencia, abandono, abuso sexuais, entre outros. “No geral as crianças chegam muito abaladas e chorosas, e as que já a entendem a situação chegam revoltadas querendo agredir os funcionários e as outras crianças”, relata Cláudia.

Segundo um estudo realizado pela Universidade de Vila Velha, normalmente, crianças e adolescentes abrigados experimentaram muitas formas de exclusão em suas vidas: o abandono, a violência doméstica, a privação econômica, social, cultural e política. Por isso, o trabalho realizado pelo Acolhimento Infantil é importante para oferecer melhores condições de vida e esperança a estas crianças e adolescentes.

Chrissye Bettoni

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