Boa Vista, Roraima – Conheça a história de Mateo, criança indígena que luta contra a desnutrição em um abrigo de Boa Vista.
Com apenas um ano de idade, Mateo já viveu experiências que assustariam até os adultos mais experientes. O menino indígena warao já percorreu longas distâncias, migrando da Venezuela para o Brasil. E agora enfrenta mais um desafio: vencer a desnutrição grave.
Ao desembarcar em Boa Vista – capital mais ao norte do Brasil e onde se concentram os abrigos humanitários da Operação Acolhida -, Maria Isabel, mãe de Mateo, não estava bem. Debilitada e sem conseguir amamentar, foi internada e separada do filho, que ficou sob os cuidados de Marianis, filha mais velha de Maria Isabel. “Quando minha mãe ficou doente, fiquei preocupada com o Mateo. Eu estava amamentando o meu bebê então o amamentei também*, para que não sentisse fome”, contou emocionada.
Com o passar do tempo, Mateo parou de se alimentar, emagreceu e não tinha mais forças para andar. Foi quando, durante uma busca ativa realizada pela equipe de saúde e nutrição, que Marianis conheceu Amarilis, monitora do projeto do UNICEF com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA). Levada até a sala de saúde e nutrição pela monitora, o olhar atento da nutricionista Luara para a família trouxe notícias difíceis, mas necessárias para agir.
“No meu primeiro contato com Mateo, ele chorava muito. Estava fraco, e após o atendimento inicial tive a certeza de que ele estava em um estado crítico de desnutrição e precisava de auxílio médico. Foi quando o encaminhamos para o hospital”, afirmou.
Quando recebeu alta do hospital, Mateo passou a ser acompanhado pela equipe multidisciplinar do Centro de Recuperação Nutricional Infantil (CERNUTRI), e pelo projeto de proteção integral do UNICEF com a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), que presta apoio e suporte à família durante a recuperação de Mateo.
“Ao retornar ao abrigo, o atendimento que já vinha sendo realizado pelo UNICEF, ADRA e a Força Tarefa, foi reforçado com o apoio do CERNUTRI e da AVSI. Foi emocionante ver essa rede de cuidados se unindo pela recuperação de um menino tão pequeno e tão corajoso”, explicou a nutricionista.
Durante todo o período em que Mateo esteve doente, sua mãe, Maria Isabel, estava internada e só recebeu alta após os momentos mais difíceis já terem passado. Foi apenas então que sua filha mais velha, Marianis, decidiu contar o que havia acontecido com o irmão, poupando a mãe de preocupações enquanto ela própria enfrentava um processo delicado de recuperação. “Quando minha mãe estava internada, eu evitei contar para ela que Mateo estava doente, para que ela não achasse que tinha culpa sobre o que aconteceu”, explicou Marianis.
Com o acompanhamento multidisciplinar, Mateo começou a ganhar peso. “Eu sei que o tratamento está funcionando porque hoje Mateo brinca, come, anda e corre. Ele está bem. Quando toca música, ele dança”, conta a mãe. “Meu filho está bem, saudável e é um exemplo de todo apoio que nós recebemos”.
Mateo ainda permanece na curva da desnutrição, mas o tratamento tem sido promissor. Letícia, a nova nutricionista que acompanha o caso, destaca que o momento mais difícil já passou, mas que é necessário continuar o acompanhamento.
“Nossa responsabilidade é avaliar, orientar a família. Mateo ainda tem desnutrição, mas já é outra criança comparada com quando chegou. Vê-lo evoluindo enche meu coração de alegria, mas permaneço atenta, para que ele melhore cada dia mais”, disse.
Nutrição e migração
O UNICEF trabalha com a promoção de saúde e nutrição para a população refugiada e migrante. Em 2025, com o apoio da ADRA em campo, 403 crianças foram identificadas com algum nível de desnutrição aguda, seja moderada ou grave nos abrigos de Boa Vista. Destes, 55,56% são indígenas.
A estratégia conta com o apoio financeiro do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO, na sigla em inglês), e outros parceiros.
*A amamentação cruzada não é recomendada, mas é um costume warao. Após a consulta com a equipe de saúde e nutrição, Marianis foi aconselhada a não prosseguir com a amamentação de Mateo.
Texto: UNICEF/Laís Muniz
Fotografias: ADRA/Maiara Bersch