Família venezuelana começa uma vida nova em Manaus
O que transforma um lugar em lar? Você já se imaginou sendo forçado a abrir mão do seu lar para viver em outro país, estado ou até mesmo cidade? E se o novo lugar não for tão acolhedor ou tão pouco tiver o conforto da sua antiga casa? Sem outra opção a solução seria se adaptar. Mas o que faria você se sentir em casa novamente? Atualmente existem mais de 70 milhões de pessoas no mundo vivendo essa situação sem expectativa de encontrar um novo lar – dados da ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.
Em Manaus o número de refugiados venezuelanos aumenta todos os dias. Na tentativa de diminuir o sofrimento de ao menos uma parcela dessa triste estatística, a ADRA, em parceria com a USAID/OFDA, implementou o projeto Swan (assentamento, água, saneamento e higiene para refugiados e migrantes). O projeto está presente em cinco estados brasileiros: Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Paraná e Rio grande do Sul. A intenção é fortalecer a autossuficiência do refugiado venezuelano suprindo necessidades materiais urgentes por um período determinado, auxiliando na locação de casas e o ingresso no mercado de trabalho. Ao todo, 2400 pessoas serão beneficiadas pelo projeto ao longo de 2019, 480 em cada estado. No estado do Amazonas serão atendidas 96 famílias compostas por 5 pessoas em média.
Dubraska Josefina de 28 anos, seu esposo Abner e o irmão Hector, agora fazem parte de uma crescente estatística positiva sendo a primeira família atendida pelo projeto SWAN no estado do Amazonas. Ela vive há nove meses no brasil. Abner (29), chegou primeiro no país, com muito esforço conseguiu trabalho e pôde trazer a esposa e o cunhado em segurança. Viveram em abrigo e de favor. Dubraska se considera abençoada por não ter passado por tantas dificuldades como seus conterrâneos que ainda se encontram nas ruas. “Meu esposo quando chegou de Boa Vista foi para o abrigo Oasis. Graças a Deus nós nunca tivemos que correr tantos riscos como muitos colegas que conhecemos. Fomos bem acolhidos, ganhamos roupas comida e meu esposo conseguiu seu primeiro emprego no Brasil”.
Depois de frequentar por algum tempo outro projeto da ADRA, o Centro de Apoio e Referência para Refugiados e migrantes (CARE), Dubraska ouviu falar sobre um projeto que ajudava os refugiados a encontrar um emprego. Interessada na proposta ela se cadastrou e pela primeira vez criou um currículo no Brasil. Ela conta como o projeto SWAN está sendo importante nessa nova fase de sua vida: “Como família estamos felizes por ter comodidade e liberdade dentro de casa. Posso levantar andar pela minha casa, cozinhar, posso ter meus projetos de vida. Agora tudo vai mudar; nós vamos ter enfim estabilidade e poder começar a construir tudo que nós queremos. Graças a Deus e à Adra, nós temos hoje essa oportunidade. Vai fazer um mês que comecei no meu trabalho e tudo está indo muito bem. Trabalho como operadora de caixa na padaria Nego Bom e fico muito feliz que no fim do dia quando fecho o meu caixa não tenho problemas com o fechamento. ”
Segundo a diretora do projeto SWAN, Rosimélia Figueiredo, a padaria Nego Bom já contratou cinco funcionários venezuelanos em parceria com os projetos da ADRA. Rodrigo Souza (31), é sócio do estabelecimento e comenta que a situação dos venezuelanos em Manaus pode ser uma boa oportunidade de mão de obra eficiente: “Vemos eles como os seres humanos que são e com a força de vontade que tem. Eles são muito competentes independente da nacionalidade. As pessoas quando querem trabalhar fazem a diferença. E é aí que entra o exemplo da Dubraska, ela está se saindo muito bem. É dedicada e mesmo não falando perfeitamente o português isso não tem sido uma barreira para ela.” Rodrigo acrescenta que quer continuar essa parceria enquanto houver oportunidade.
O objetivo do projeto SWAN é atingido quando as famílias alcançam a autossuficiência econômica. Dessa forma, famílias como a da Dubraska encontram a possibilidade de recomeçar a vida com dignidade, construindo dessa forma seu novo lar. Quando questionada sobre os planos para o futuro ela se emociona ao lembrar dos queridos que ainda estão na Venezuela e afirma: “Quero trazer o restante da família”, e com lágrima nos olhos completa, “o mais importante é a família.”
Bárbara Katherine é jornalista da ADRA no estado do Amazonas