Pobreza extrema, frio, fome e perigos que cercam a cidade, são desafios para aqueles que não tem onde se abrigar, que perderam o vínculo com seus familiares, pessoas muitas vezes invisíveis para sociedade. Pessoas abrigadas nas Unidades de Acolhimento Institucional da ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) têm histórias para contar que vão além da ação social. Envolvem a descoberta de amizades genuínas. A rotina de estarem juntos todos os dias, fazendo refeições, compartilhando a luta diária no quarto antes de dormir e em outros ambientes e situações, resultam em dias inesquecíveis. Essas memórias costumam criar vínculos que duram a vida toda. O mês de julho é marcado por duas datas, o Dia do Amigo (20) e o Dia Internacional da Amizade (30). A ADRA Regional Bahia, compartilhou duas histórias que mostram a superação de amizades que permanecem.
Jair Bueno Souza, acolhido desde 2019, portador de uma síndrome degenerativa (Síndrome de Machado-Joseph) que o impede de ter autonomia, e trazem dificuldades de andar pela cidade e falar, porém, com clareza cognitiva, faz parte das muitas histórias de amizade construídas durante a permanência nos abrigos. Para Jair, a amizade criada na unidade de acolhimento vai muito além da ajuda e dos cuidados que recebe. Além da equipe que o acompanha, Francine Souza, coordenadora da unidade, destaca que é notório o laço formado pelo assistido e dois dos educadores: Mateus Cruz e Renildo Carvalho. “É uma amizade regada de muito carinho. Eles estão sempre prontos em atender qualquer demanda que Jair tenha. O próprio Jair reconhece isso, pois se mostra confortável e seguro diante de seus cuidados” comentou.
Outra história de amizade que já dura anos, é a do Paulo Gilberto de 40 anos. Ele foi acolhido durante 8 meses e conta que foi um privilegiado da casa. “Foi um momento que eu nunca pensei em passar na minha vida. Nunca imaginei acontecer essa reviravolta, mas foi um aprendizado. Conheci muitas pessoas legais, mas as que mais marcaram minha passagem pelo abrigo foram Gabriela Souza e Daciane Andrade, a minha assistente social e minha psicóloga. Uma das primeiras coisas que ouvi delas, e que marcou a minha vida e até hoje é importante para mim, foi que eu não perdesse esse lado social que tenho”, relatou. Paulo fez muitas amizades e conta que durante a permanência na casa, pode se conhecer melhor. “Tive oportunidade de recomeçar, fui muito bem acolhido. Ao olhar para trás, vejo que construí muitos amigos durante o tempo que passei no abrigo, e hoje tenho prazer em voltar lá para revê-los e mostrar a eles como é possível se reerguer com a ajuda dos profissionais e voluntários que ali estão, fora a ajuda espiritual que recebemos”, comentou.
Para Leonardo Mendes, diretor regional da ADRA para o Estado da Bahia, uma das primeiras coisas que se rompe a partir do momento em que a pessoa passa a viver em situação de rua, são os laços familiares e os laços afetivos de amizade. “Nossa proposta nos abrigos através da equipe psicossocial, é justamente isso, refazer e reconstruir. Por isso existe um processo tanto por parte da psicologia, como da assistência social, de reconstrução com cada um deles. Esse é o objetivo, e a gente tem lutado para alcançar isso, e em alguns momentos com êxito”, detalhou Mendes.