ADRA Brasil apresenta na COP30 projeto que une renda para ribeirinhos, recuperação da floresta e cadeia sustentável do açaí no Pará

Cooperativa proposta pela ADRA quer transformar a cadeia do açaí em renda estável, reflorestar áreas degradadas e fortalecer comunidades ribeirinhas no Pará.

A ADRA Brasil, Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, apresentou, nesta quarta-feira (19), no Pavilhão do Brasil da COP30, em Belém, uma proposta de empreendedorismo verde para comunidades ribeirinhas do Pará. O modelo une geração de renda, recuperação de áreas degradadas e fortalecimento da cadeia sustentável do açaí, fruto que está entre os símbolos econômicos e culturais da Amazônia.

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A iniciativa é voltada às comunidades do Joca e do Limoeiro do Ajuru, na região nordeste do estado, e tem potencial de beneficiar pelo menos 200 famílias com a criação de uma cooperativa local capaz de administrar uma fábrica comunitária de beneficiamento de açaí e produção de biomassa a partir do caroço. O projeto também prevê a expansão de culturas, como do mel e do palmito, ao longo de três anos.
A apresentação ocorreu na Blue Zone, área oficial da ONU, e integra a programação dos países signatários da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A ADRA participa da COP há mais de uma década, com presença em painéis temáticos de países, neste ano incluindo Brasil e Alemanha.

A proposta: transformar o açaí em renda e em regeneração ambiental

Ação da ADRA Brasil durante a programação da COP30, em Belém. (Foto: Divulgação)

O diretor regional da ADRA no Pará e Maranhão, Adimilson Duarte explica que a proposta busca enfrentar um ciclo histórico de vulnerabilidade socioeconômica entre famílias que vivem da extração de açaí. Hoje, a maior parte dos ribeirinhos vende o fruto in natura para atravessadores e perde até dez vezes o valor que obteria com o produto beneficiado.

“Eles já têm o conhecimento, a força de trabalho e o domínio das áreas de cultivo. O que falta é infraestrutura e acesso a recursos para o beneficiamento. Com a cooperativa, o produtor deixa de vender o fruto cru e passa a comercializar a polpa e até o caroço, que vira biomassa para energia. É renda, autonomia e floresta em pé”, afirma Adimilson.

O projeto possui quatro frentes principais:

Participantes acompanham as atividades e apresentações realizadas no Pavilhão do Brasil. (Foto: Divulgação)

1.⁠ ⁠Beneficiamento local do açaí, com instalação de uma miniusina comunitária para transformar o fruto em polpa.

2.⁠ ⁠Venda da biomassa do caroço, que hoje é comercializado sem gerar renda às comunidades, e tem alto valor energético.
3.⁠ ⁠Beneficamento do palmito em conserva, aproveitando o período de entressafra.
4.⁠ ⁠Expansão de apiários para produção de mel, atividade que, além de gerar renda, estimula a polinização e acelera a regeneração do açaizal.
A expectativa é que a iniciativa aumente significativamente o poder de negociação das famílias ribeirinhas, criando um modelo comercial mais justo e sustentável.

Floresta em pé, captura de CO₂ e parceria científica

André Alencar, coordenador de projetos sociais da ADRA Brasil, destaca que além do impacto econômico, o projeto tem forte componente ambiental. As áreas degradadas das comunidades deverão receber novos plantios de açaí, conduzidos com apoio técnico de instituições como Embrapa e a URPA, ampliando a capacidade de captura de dióxido de carbono, processo que ocorre naturalmente pela fotossíntese.

“Quando replantamos o açaí em áreas degradadas, ampliamos a floresta, fortalecemos cadeias sustentáveis e aumentamos a absorção de CO₂. É desenvolvimento que combate o desmatamento, e não o contrário”, explica André.

A ADRA já está em diálogo com o Ministério da Agricultura e outras entidades para viabilizar futuras certificações do produto, o que pode elevar ainda mais o valor da polpa e da biomassa no mercado.

Segundo Alencar, a iniciativa é inspirada em um modelo semelhante que a ADRA Internacional implementa em Gana, na África, com o beneficiamento da castanha de caju. O objetivo é trazer ao Brasil um modelo replicável, escalonável e centrado na comunidade, adaptado ao contexto amazônico.

“Preservar a floresta não pode excluir as pessoas”, diz direção regional

Para o diretor regional da ADRA no Pará e Maranhão, Adimilson Duarte, o debate ambiental global precisa incluir quem vive da floresta e dentro dela.

“Não dá para pensar em preservação sem pensar nas pessoas. Se a comunidade não tem renda, ela acaba vulnerável a práticas predatórias. A cooperativa muda essa lógica: cria renda, fortalece o território e protege a floresta”, afirma Duarte.

O diretor reforça que a região dos ribeirinhos tem grande potencial para se tornar um polo de produção sustentável e que a implantação da fábrica comunitária pode gerar efeitos colaterais positivos, como a expansão de culturas alimentares e o fortalecimento da cadeia do mel na região.

Por que esse projeto importa na COP30

A COP30 ocorre em Belém num cenário global de alerta sobre desmatamento e desigualdade socioambiental. Em debates internacionais, o Brasil tem defendido que a floresta só permanece em pé quando oferece meios de vida dignos para quem mora ali.
A proposta da ADRA Brasil ecoa esse discurso, trazendo um modelo prático que combina:

•⁠ ⁠renda local
•⁠ ⁠produção sustentável
•⁠ ⁠redução de carbono
•⁠ ⁠gestão comunitária
•⁠ ⁠valorização de saberes tradicionais
•⁠ ⁠preservação da Amazônia

Segundo André Alencar, essa é a mensagem essencial que a ADRA leva à COP30.

“A agenda ambiental precisa enxergar as famílias. Preservar o território é preservar as pessoas. E quando elas têm autonomia econômica, se tornam protagonistas da própria proteção da floresta”, conclui.

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