Iniciativa utiliza recursos lúdicos para promover inclusão e desenvolvimento social
Estabelecido pela Assembleia Geral da ONU em 2008, o dia 2 de abril é marcado como o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. O aumento no diagnóstico de autismo nas últimas décadas tem desafiado pesquisadores, profissionais de saúde e organizações em todo o mundo. Um estudo recente do CDC (Centers for Disease Control and Prevention), vinculado ao governo americano, aponta que atualmente um em cada 36 crianças é diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que acende um alerta sobre a importância de políticas públicas e programas de apoio efetivos.
Diante desse cenário, em Belo Horizonte, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), em parceria com a prefeitura, responde com o projeto Mala de Recursos Lúdicos, uma iniciativa que busca por soluções efetivas para os desafios impostos pelo autismo. Utilizando uma abordagem centrada no lúdico e na terapia adaptativa, o programa visa promover o desenvolvimento social e cognitivo de pessoas com TEA, enfatizando a importância da inclusão e do reconhecimento das capacidades individuais.
O programa
O Programa Mala de Recursos Lúdicos, iniciado em Belo Horizonte em 2015, foi estruturado com base na experiência lúdica do Programa Muriki e do Serviço de Proteção Social para Pessoas com Deficiência (SPSPD).
As atividades do projeto são ofertadas no domicílio, na comunidade e na cidade, possibilitando o acesso a espaços públicos de cultura, esporte, lazer, entre outros. No atendimento, os educadores sociais do Programa usam uma mala customizada, que contém materiais diversos, o que abre a possibilidade da novidade, da magia e do convite ao lúdico, por meio do fortalecimento de vínculos e do envolvimento da família em torno da pessoa com deficiência.
Mala
A mala transborda diversidade e cor. Em seu interior, encontram-se não apenas livros, mas também papéis, tecidos vibrantes destinados a se transformar em personagens de histórias e paisagens imaginárias. Recheada com brinquedos, melodias, elementos da natureza e fragrâncias diversas em frascos minúsculos, ela transcende sua capacidade física, abrigando também as riquezas da imaginação de quem a maneja e de quem se beneficia dela.
Luciene Guedes dos Santos, coordenadora do projeto, sublinha a importância dos recursos lúdicos, que servem como ferramentas eficazes para desenvolver habilidades sociais e de aprendizagem. “Não existe uma atividade única para todos. Cada pessoa é única”, ela enfatiza, destacando a adaptação individual das atividades para cada participante do programa.
Oficina Lúdica
Por outro lado, a Oficina Lúdica, uma vertente do Programa, promove encontros meticulosamente planejados em parceria com o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência, estendendo suas atividades para além das residências. Realizadas em ambientes como praças, parques, museus e espaços culturais, estas oficinas propiciam uma experiência enriquecedora, incentivando o convívio social entre diferentes gerações e facilitando a inclusão social de forma engajadora e significativa.
Vulnerabilidades
A coordenadora do projeto explica que as famílias atendidas enfrentam diversas vulnerabilidades sociais, incluindo limitações financeiras, falta de suporte familiar e situações de dependência. “Essas famílias muitas vezes se encontram isoladas socialmente, seja devido a barreiras físicas em suas residências e comunidades, seja por obstáculos relacionados a atitudes, como a exclusão, o preconceito e a discriminação”, enfatiza a coordenadora.
Por meio do programa, essas famílias obtêm informações sobre direitos sociais e aprendem como acessá-los, assim como a maneira de usufruir dos espaços urbanos. “As atividades são realizadas em locais como parques, museus, praças, centros culturais, cinemas e teatros”, destaca Luciene.
Transformação
A jornada de Vinícius Alves Hort Araujo, desde o seu ingresso no programa em 2016, é uma narrativa de superação e descobertas. Diagnosticado com autismo severo de grau 3 e uma condição de deficiência intelectual grave, Vinícius enfrentava um mar de agitação e desafios, tornando sua interação com o mundo um processo complexo e delicado.
Valdirene Alves Hort, a mãe cujo amor e determinação nunca vacilaram, relembra os primeiros dias: “Era uma batalha diária, cheia de incertezas e pouco progresso. Vinícius estava sempre agitado, e encontrava dificuldades para se engajar nas atividades propostas.” No entanto, a constância de parceiros solidários e dedicados da ADRA acendeu uma chama de esperança no coração de Vinícius e na vida da família Hort.
“O Vinícius sempre teve um carinho especial pelos educadores do programa — Flávia, Lúcia e tantos outros que se tornaram mais que instrutores, mas verdadeiros amigos,” conta Valdirene. Com o apoio inestimável da equipe multidisciplinar, que inclui especialistas em psiquiatria e educadores, e com a introdução de medicamentos ajustados, Vinícius começou a revelar um potencial que até então estava oculto.
Agora, com a intervenção contínua da educadora social Raquel, Vinícius se lança em trabalhos manuais e atividades que antes pareciam impossíveis. “Ele espera pelas sessões com a Raquel, e é visível a mudança. As bolhas de sabão gigantes, os jogos de encaixe, são mais que brincadeiras; são pontes para um mundo onde ele se sente seguro, feliz e capaz,” Valdirene expressa com um misto de orgulho e emoção.
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