Por 15 anos, Marcos Roberto Pinto foi usuário de drogas como o crack. Durante esse tempo, quase perdeu a família, o casamento, a dignidade e a própria vida. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o abuso de substâncias psicoativas provoca sofrimento físico, emocional e social significativo, levando muitas pessoas ao limite.
Marcos iniciou sua recuperação no Projeto Pró Vida, mantido pela Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais – ADRA na Bahia, que atua no acolhimento de pessoas em situação de dependência química. “Depois do tratamento, busquei conhecimento para entender melhor o problema e ajudar outras pessoas. Hoje, por meio da ADRA, atuo na prevenção com crianças e adolescentes na escolinha Gol de Esperança, e na conscientização de quem está em tratamento nas comunidades terapêuticas”, relata Marcos.

À esquerda, Marcos há 15 anos como dependente químico no aeroporto de São Luís a caminho do tratamento na Bahia; à direita, após sua recuperação da dependência química. (Foto: Colaboração)
Para ele, a recuperação é um processo que exige apoio e fé. “Deus caminhou comigo em cada passo. As pessoas precisam entender que a dependência química é uma doença, e é fundamental cuidar da saúde emocional para iniciar esse processo.” Marcos conheceu a Igreja Adventista do Sétimo Dia, foi batizado e decidiu entregar sua vida a Jesus. Hoje, compartilha sua história para inspirar outras pessoas. Atualmente, é coordenador de projetos da ADRA no Maranhão, especialista em dependência química e palestrante. “Não é fácil ser ex-usuário, mas o que Deus tem feito em minha vida é muito maior do que eu imaginava. Minha missão é transformar vidas e ajudar a construir uma sociedade mais justa e solidária.”

Marcos viveu nas garras do vício. Hoje, ele lidera um projeto da ADRA que transforma a dor em esperança para quem enfrenta a dependência química. (Foto: colaboração)
Recuperação humanizada e apoio integral
No Dia Internacional de Combate às Drogas (26 de junho), o Projeto Pró Vida, da ADRA Bahia, reforça sua atuação no acolhimento a homens em recuperação da dependência química. Para marcar a data, a unidade promoveu uma roda de conversa on-line com Marcos Roberto, que compartilhou sua história de superação com os atuais participantes.

Encontro virtual promove diálogo e apoio emocional entre acolhidos do Projeto Pró Vida. (Foto: Reprodução)
Localizado no município de Cachoeira (BA), o projeto oferece um ambiente seguro e humanizado, com foco na recuperação integral dos acolhidos. A unidade atende homens a partir de 18 anos, oferecendo apoio psicossocial, terapêutico e clínico. As atividades são planejadas por uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, enfermeiro e técnicos de enfermagem, visando o fortalecimento emocional, físico e social dos participantes.

Há mais de 25 anos, o projeto atua na região com foco em acolhimento e reabilitação. (Foto: Colaboração)
Na avaliação do psicólogo Luís do Carmo Soares, a recuperação da dependência química envolve múltiplos desafios emocionais. “Além da abstinência, é preciso lidar com o estigma social, a codependência, transtornos como depressão e ansiedade, além da falta de apoio e dificuldades financeiras. O acompanhamento psicológico ajuda a identificar esses fatores e a ressignificar comportamentos, controlando a ansiedade e prevenindo recaídas por meio da psicoterapia individual e em grupo.”, explica.
Parcerias e reinserção social
Além da busca espontânea por parte das famílias, o projeto mantém uma parceria com a Prefeitura de Salvador, acolhendo até 35 pessoas em situação de rua, com idades entre 21 e 59 anos, que enfrentam o desafio da dependência química. A unidade também busca suporte e encaminhamentos junto aos equipamentos de saúde do município de Cachoeira, fortalecendo a rede de cuidados e ampliando o acesso a serviços complementares.
De acordo com Leonardo Carvalho, coordenador do Pró Vida, o projeto também desenvolve atividades que contribuem para a geração de renda e capacitação dos acolhidos, como oficinas de agricultura, marcenaria e outras práticas manuais. “Nossa abordagem é totalmente humanizada, com foco na reconstrução da autoestima, reintegração familiar e preparo para o mercado de trabalho. Além do apoio terapêutico e espiritual, essas atividades ajudam na recuperação e na reinserção social dos participantes”, destaca.
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- Horta da oficina de agricultura é utilizada pelos acolhidos como parte das atividades de reabilitação. (Foto: Colaboração)
Segundo Leonardo Mendes, diretor regional da ADRA na Bahia e Sergipe, o principal obstáculo para garantir o tratamento de qualidade é o alto custo, especialmente porque a maioria dos acolhidos vem de contextos de vulnerabilidade social. “A ADRA atua com foco no cuidado genuíno, diferente de instituições que têm interesses comerciais. Nosso compromisso é com o bem-estar e a dignidade de cada pessoa atendida.”