Marcel Peres é indígena da etnia Taurepang e saiu da Venezuela para recomeçar sua vida no Brasil
Por Lairyne Silva
Morando há 2 anos em Pacaraima, Marcel Peres, 32 anos, deixou a sua casa na Venezuela para vir morar no Brasil. Ele é indígena da etnia Taurepang e morava na comunidade Kumarakapay, localizada no município da Gran Sabana, Venezuela. Ele conta que devido a crise política, social e financeira do País, muitas pessoas protestavam por seus direitos e ele defendia isso, após ameaças contra sua segurança ele foi obrigado a fugir de casa. “Sofri ameaças contra minha vida após ir ás ruas e defender os direitos humanos e ir contra o atual governo. Denunciava os abusos, as tropas e as violações dos direitos humanos por parte dos funcionários do governo da Venezuela, por isso, eles começaram a me perseguir para me prender. Então me senti obrigado a fugir de lá”, relatou.
Marcel trabalhava na polícia e por ser funcionário, ele conta que não poderia falar mal da atual gestão do governo. Após alguns familiares deixarem o país, ele também conseguiu sair do local em segurança. E foi na comunidade de Tarau Paru em Pacaraima, município do estado de Roraima, que ele conseguiu abrigo. Ele conta que quando deixou sua casa, enfrentou dificuldades e que o Projeto ANA o ajudou a recomeçar. “Quando eu saí do meu país eu não tinha nada. Deixei tudo pra trás, foi quando tive a oportunidade de me cadastrar no Projeto ANA e receber o benefício. A ajuda foi fundamental para me reerguer com minha família. Eu não tinha emprego, nem possibilidades de trabalho, sou agradecido por isso.”, disse feliz.
Em pouco tempo morando na comunidade de Tarau Paru, Marcel conheceu sua esposa Kikey Nunes, 26 anos, que também é indígena migrante da comunidade de Guaramacen, Venezuela. A esposa também é da etnia Taurepang, ela deixou sua casa e conseguiu abrigo em Tarau Paru. Juntos, a família tem 3 filhos e através do projeto conseguiram comprar alimentos, produtos de higiene e itens de casa como pratos, copos, colher, etc. “Eu vim em fevereiro de 2019 e meu motivo de sair da Venezuela foi porque teve um confronto em Santa Helena e na minha comunidade. Houve muito massacre, muitas pessoas perderam a vida e por isso muitos deixaram suas casas. Me sinto agradecida por ser acolhida no Brasil”, relembra Kikey Nunes.
Como forma de manter o sustento, a família conseguiu plantar macaxeira para consumo próprio. A plantação fica há 2 horas de distância de onde eles moram e Marcel teve que aprender noções agrícolas para manter a qualidade dos alimentos. Associado a isso, ele também coloca em prática o que aprendeu na comunidade onde ele morava: O artesanato. “Hoje eu trabalho na pequena plantação agrícola que construí pra minha família, plantamos macaxeira somente para consumir no dia a dia e isso foi algo que eu tive que aprender. Não podemos perder tempo e tenho que fazer de tudo para sobreviver. A outra atividade que faço é o artesanato, temos um espaço que mostramos nosso produto aqui em Tarau Paru e quem desejar nós vendemos ou aceitamos encomendas”, contou.
Marcel faz lindas esculturas em pedras, algo que ele aprendeu ainda criança. A matéria prima é encontrada somente na Venezuela e se chama caulim, é de tonalidade branca e rosa. Cores diferentes e que chamam a atenção de quem vê. O trabalho é manual e exige delicadeza nos detalhes e na pintura. Apesar da produção ser pouca, o dinheiro que ele recebe complementa a renda de sua famílias. Marcel buscou outras alternativas de trabalho, pois, sabia que o benefício do projeto tem a duração apenas de 6 meses.
Em Tarau Paru, ele construiu uma pequena casa de madeira adquirida através de algumas doações. Apesar de ter uma moradia, a família ainda passa por algumas dificuldades. “Minha maior dificuldade hoje é a falta de emprego, de trabalho. É difícil comprar coisas para nossos filhos. Na Venezuela nós tínhamos uma profissão e aqui não temos. Não consigo fazer nenhum curso porque não posso deixar minha família, pois, dependem de mim. Se eu sair daqui e ir estudar quem vai alimentar meus filhos?”, disse entristecido.
Com planos futuros, Marcel pretende continuar morando no Brasil e devido o medo e a crise do seu país ele não pretende retornar. “Não pretendo regressar a Venezuela, mas, um dia se tudo melhorar pretendo apenas visitar minha família que ainda mora lá”, frisou. Na comunidade de Tarau Paru ele tem o sonho de construir uma escola de música para as crianças. “Meu pai é músico e eu cresci nesse ambiente, eu aprendi a tocar clarinete e saxofone, então tenho um sonho de abrir uma escola aqui onde eu moro para ensinar as crianças um pouco mais da música. Mas é preciso ter investimento e até o momento a oportunidade ainda não apareceu. Tenho esperanças de que um dia isso possa mudar”, disse esperançoso.
Projeto ANA
O Projeto ANA (Ações Alimentares e não Alimentares para Migrantes Venezuelanos no Brasil), tem o objetivo de reduzir a insegurança alimentar de 31. 427 mil pessoas entre migrantes venezuelanos e brasileiros vivendo nas áreas afetadas das cidades de Boa Vista, Corredor Migratório de Roraima (Municípios de Iracema, Amajarí, Mucajaí, Caracaraí, Rorainópolis e Pacaraima) e Manaus, ao mesmo tempo que proporciona o acesso a itens domésticos básicos e artigos de higiene. Em Pacaraima atende também as 4 comunidades indígenas: Sakamota, Tarau Paru, Sorocaima e Bananal. O tipo de serviço consiste na entrega de vouchers (cartões com crédito) para compra de produtos alimentícios, higiene, abrigo & assentamento, também são capacitados em promoção de higiene e sensibilização para melhor nutrição e combate a covid-19. O projeto funciona com a parceria da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e seus escritório FFP (Food for Peace) e OFDA (Office of U.S. Foreign Disaster Assistance).
Para conhecer mais projetos da ADRA Regional Roraima acesse:
REFEIÇÕES QUENTES: Refeições Quentes – ADRA Brasil
EMERGÊNCIA RORAIMA: Emergência Roraima – ADRA Brasil